quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Estagiário

Para tantas, senão todas as profissões é necessário que exista um “multi-tarefas” para suprir os desfalques de cada área. Esses são os estagiários. Trabalho normalmente operacional, independente do setor, isso porque o estagiário está lá para aprender na prática a exercer uma profissão e se qualificar. Existem diversos tipos deles. Os estagiários que fazem aquilo que mandam e pronto. Os que se esforçam para serem efetivados e fazem além, e os que mais do que estagiários, se tornam amigos.

Tive dois tipos de estagiárias em um período muito curto de tempo, mas como opostos me fizeram entender e admirar a profissão. Essas que teimosas também debateram comigo, auxiliaram meu trabalho em momentos determinantes. Muitos deles fora do âmbito profissional.

Estagiário também atua como conselheiro, acompanhante de festas, medidor de auto-estima, blá, blá blá. Ele, que está ali para ajudar no trabalho, palpitar na vida pessoal, a escolher presentes para o namorado, entre a pousada ou o hotel, a roupa ou o jantar, se vai ou não voltar a procurar aquela pessoa. Estagiário, estagia mesmo na vida. Aprende e ensina mais do que profissão.

Particularmente sou suspeita para falar já que apesar das desavenças tive certa afinidade com minhas duas estagiárias. Porém, só pelo fato de suportarem, normalmente com bom humor, os meus dias nublados já sou inteira admirada. Não é fácil assumir papel de “chefe” e ser obrigada a ser durona quando o coração está feito manteiga derretida.

Mas, separando ou não profissional do pessoal, afinidade com estagiário é uma coisa engraçada. Dá sensação de querer proteger, de aconselhar e querer cuidar. Mesmo que a diferença cronológica seja pouca e o estilo de vida parecido muito temos a conhecer. A vida diferente do nosso dia-a-dia chama a atenção e merece que participemos. É tão gostoso e tão interessante quando além de colegas do trabalho, passamos a estabelecer vínculos mais fortes que ultrapassam as paredes empresariais. É muito mais do que arquivos, e atendimentos e cadastros. É fidelidade, felicidade, festas, fofocas. Estagiário é aprendiz da vida, e quem aprende sempre tem algo a ensinar.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Alice às avessas.

{Escrito em 15 de setembro de 2010]


Faz um tempo desde o meu último livro e dos minutos sorrindo para o monitor. Nem se fala então dos dias em que veio na cabeça uma história pra contar. Mas hoje quando pela milésima vez mudou a data da apresentação de um dos meus trabalhos mais importantes passei a querer entender tudo o que acontece e porque a vida faz esse jogo comigo.

Quando em dois mil e sete nossa vida se cruzou naquele sonho do banheiro que você teve eu achava que essa altura toda não comportava nada de melhor mesmo, por isso o sonho tinha sido tão ruim. Passaram doze meses e nossa vida se cruzou de novo com uma ligação estranha que eu nem sou capaz de explicar, mas posso lembrar como se fosse ontem o dia que dormimos abraçados em cima do capô de um carro depois de uma briga sem motivo e os dias que passávamos naquela garagem onde o vento não nos alcançava. Era um lance em que não havia o lance em si, mas o conforto do seu silêncio era tão grande que eu poderia passar a vida toda calada.

Não sei, depois não quis mais saber, quis colocar um pouco de barulho e perturbar a vida, o conforto era tanto que só podia ser mentira.

Mas sei que alguém estava certo quando me disse que tudo que a gente não termina um dia aparece novamente. Não é que é verdade?

Hoje aprecio o silêncio e aprendi a conviver com o conforto do vazio sonoro, mas de vez em quando faço soltar umas palavras pra perturbar um pouco e sentir vontade de fazer as pazes.

Parei de achar o sonho sem sentido e tenho vontade de torná-lo realidade.

Quem esperaria isso dessa vida? Quando a sensação de vácuo me enche o coração.

Mas descobri que o que completa realmente é essa coisa de não querer, não esperar e não forçar acontecer.

De vez em quando aparece o caracol, as vezes um choro de neném e até um miado de gato, tudo isso pra mostrar que é possível viver no pais das maravilhas sem ter que cair num buraco sem fim.

Lição de Casa.

Esses tempos tive uma grande lição. Aprendi o significado da palavra perder e o significado da palavra perdão. Em síntese, nada se parecem uma com a outra a não ser pela grafia e sonoridade. No dicionário perder significa v. TR 1. Deixar de ter alguma coisa útil, proveitosa ou necessária, que se possuía, por culpa ou descuido do possuidor, ou por contingência ou desgraça. Perdão s. m 1. Remissão de culpa, dívida ou pena. = desculpa 2. Absolvição, indulto. 3. Benevolência, indulgência. interj. 4. Fórmula que exprime um pedido de desculpas. Duas antíteses objetivas. Mas, no modo dialético elas acontecem sob a forma de processos, em constante transformação.

Hoje, após uma semana e a cabeça um pouco mais fria, analisar todo o processo fica um pouco mais fácil. Dizer que aceitar a perda é fácil, é como dizer para um gordo que doce não engorda. Mas essa mesma transformação dialética faz com que analisemos cada etapa para que o que temos, ou melhor, o que perdemos, seja entendido de uma maneira mais clara.

Talvez faltou a ligação no fim da tarde, e a mensagem de boa noite. A demonstração de afeto, de preocupação, de querer bem. Talvez faltou cafuné. Ou não faltou nada. Pode ser que foi descuido deixar por aí, solto. Faltou juízo. Não sei.

Mas, entre tantas faltas, existe a falta que consegue ser maior que todas as outras juntas. A falta da presença, do abraço apertado, do beijo. A falta de saber, só por saber, que hoje é dia de vídeo game, amanhã de academia e na quarta é prova do colégio. A falta de ficar brava, boba, abraçada, encantada.

Descobri o que é perder algo ou alguém que temos nas mãos e temos muito apreço. Descobri que a perca sempre vem associada ao descuido, ao deixarmos solto por aí aquilo que gostamos. Porque se gostamos, outros gostarão e a partir desse momento podemos entregar o que era para ser nosso.

Sabe, as vezes estamos muito fixadas no encantamento que esquecemos que precisamos cuidar, acalentar, alertar, avisar. Quando se vê passou despercebido e tudo continua normal por fora.

Perder, todo mundo perde às vezes. Descuido seu, desconsideração do outro. Mas perder alguma coisa, ou alguém de muito valor ou importância pesa mais. Aperta e dói.

Entendi que a perca tem sua culpa e seu motivo, e por vezes vem acompanhado de ato ou alguém que errou. Nisso conheci uma coisa nova pra mim. O perdão. Poucos tem a virtude de perdoar. Erro. Quem é que não erra? Quem é que não admite erros? Por quê magoar? Perdoar, aprendi. É muito mais bonito, o coração sorri. A segunda chance, vinda do perdão, é muito mais sincera.

Analisando assim, separados, perder e perdão parecem coisas sem ligação nenhuma. Mas uma respectiva à outra, acompanham fases na vida. Primeiro perdemos, por falta, por erros. Depois, perdoamos. Todos merecem segunda chance.

Assim, o coração fica em paz e some o peso. Fica leve. Mesmo que fique faltando alguma coisa, alguém. Sei lá.