[Escrito em 20 de julho de 2010]
Hoje eu tava por aí no trabalho e me deparei com uma pessoa com a expressão preocupada, meio tchalalá. Me deu uma dó no coração. Era uma garota na melhor fase da vida e já parecia carregar tantos montes de problemas sobre as costas. Perguntei e ela me respondeu que eram acontecimentos comuns do dia-a-dia. Que quando acordamos com a sensação de que será uma droga, o dia é mesmo, independente do que se faça para mudar.
Disse pra ela que não adianta se entregar a essas coisas. A gente atrai aquilo que transmite, se você está com a cabeça baixa pensando na droga de vida que tem, cada vez mais drogas vão aparecer. Seu chefe vai quebrar o dente durante o almoço e dizer que a culpa é do estresse diário e gritar com você porque está estressado com o próprio trabalho e com as coisas que não consegue resolver senão no grito. Um velho resmungão vai ligar e apontar erros que não são seus porque ninguém mais quer ouvir e não tem quem culpar senão ele próprio, então escolhe você pra desabafar poucas e boas até que você mostre o erro dele e o telefone fique mudo porque aquele senhor nada educado desligou na sua cara com medo, ou vergonha, ou ignorância de assumir sua falha.
Querida, você vai acordar e voltar a dormir tentando mandar a preguiça pra um lugar no qual você não vai desejar estar, vai olhar para a cara de sua mãe com um bico de pica-pau igual o do seu pai que não está nem aí há tantos anos e vai lembrar o quanto ele foi sacana e seu humor que já estava numa escala abaixo de zero, vai cair mais ainda. Tudo isso a gente atrai.
Pode ser que uma música, uma pessoa, uma palavra, um abraço, um caderninho e uma caneta, uns rabiscos, alguma ou todas essas coisas juntas consigam arrancar de ti essa tristeza aí na alma. Deixa. Manda de um jeito bem educado, com um sorriso estampado e o peito bem cheio, todas essas drogas pra'quele lugar. Desculpe-me a expressão, garota, manda tudo isso SE FODER.
Ria dos chineses e seus "pleços quatlo leais" , ria com a tia da limpeza, sorria quando um careca aí quiser descontar as coisas em você. Ouve de um lado e deixa sair pelo outro. Purifica esse coração aí. Pedra ninguém quer não, deixa ele voltar a ser brilhante.
A menina, após todo o meu discurso me disse, tão cabisbaixa, que tenta, mas quase não aguenta levantar mais. Olhei bem nos olhos dela, nos olhos que por mais que se arregalem não abrem mais do que o normal e por um instante me calei. Logo após, peguei suas mãos e dei uma boa sacudida mandando toda a urucubaca embora. Olhei novamente e com a maior convicção do mundo falei a ela de sua força, sua imensa força. Que aguenta não só os deslizes, os desfalques, os monótonos, agitados, tristes, e felizes dias. Essa garota tem uma força que aguenta o mundo, que aguenta todas esses montes de problemas e muitos mais e aguenta ainda tudo que de mais vier, mas somente se conseguir se livrar dessas sensações de fim de mundo. Garota, deixe o fim de mundo para 2012, não queira adiantar as coisas.
Calada, a garota me olhou.
Abriu a torneira à sua frente, lavou o rosto e disse para seu reflexo no espelho: Foda-se. Sorriu para mim e eu, refletida no espelho, pude sentir a sujeira que carregava indo água abaixo.
sexta-feira, 30 de julho de 2010
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