sexta-feira, 15 de julho de 2011

O muro

Tenho criado barreiras há anos para que poucos de vocês me conheçam de verdade e assim evitem de comentar ou tentar entender meus gostos, meus sonhos e minhas vontades. Quem vê de fora, enxerga algo que não é real, não que seja falso, é só a pequena parte de mim disponível para visualização.

Nesses vinte e poucos anos, foram raras as situações em que me senti compreendida, talvez não por falta de vontade dos outros, mas pela minha falta de vontade de mostrar, o que, no fim, luto tanto para esconder.

Confesso para algumas pessoas que reparto meus problemas e alegrias, para fulano conto sobre meu trabalho e para sicrano sobre minha família. Choro com um e sorrio com o outro; Sendo assim muitos me conhecem superficialmente e poucos, ou pouquíssimos, conseguem saber quem eu sou juntando as peças de quebra cabeça.

Quando alguém entra nesse meu mundo e consegue me fazer pensar, que seja sobre a vida ou determinada situação, eu percebo que essa pessoa sabe muito sobre mim, e isso me assusta. Porque eu contei tanto? Porque deixei esse alguém entrar no meu mundo? Mas a principal dúvida é: “porque tenho medo que me conheçam?”.

Eu nunca cometi um crime, eu não costumo fazer mal pra ninguém, eu trabalho, tenho meu dinheiro, eu sou formada, eu não recuso ajuda... eu sou uma boa pessoa. Porque não querer ser vista por completo?

Porque vocês não podem saber que eu corro só para o coração disparar, que eu adoro ficar de ponta cabeça no sofá, que eu não gosto de coentro, que eu tenho medo de palhaço, que eu odeio usar uniforme, que eu adoro passar nutella no bis branco, que minha vó é meu exemplo ou que meus primos e irmãs são os maiores amores da minha vida?

Ixi, falei!

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Saudação Matinal

Sabe, num período um pouco nublado e com muitas tempestades, descobri uma das coisas que me fazem sentir vontade de levantar todas as manhãs e seguir em frente, mesmo que seja para encarar situações que não suporto mais.

Chega normalmente depois do café preto matinal que me faz companhia enquanto aguardo ansiosa a definição do que vai ser daquele instante até a hora em que colocarei novamente a cabeça no travesseiro para dormir e começar tudo de novo. A mesa recebe uma vibração e declara que chegou. A mensagem. O “Bom Dia”. Agora sim. Qualquer tormento, insatisfação e estresse não conseguirão me afetar totalmente. Duas palavras capazes de estampar sorrisos e dar coragem.

Não digo que é rotina só começar o dia depois que essas palavras chegam. É que, na verdade, necessito delas para ter certeza que posso seguir em frente confiante de que ao menos alguma coisa não está perdida. Um torpedo muda tudo.

Como parte do meu dia e da minha vida, a mensagem e tudo o que vem com ela me transmite paz e preenche o que tiver por dentro. E quem diria, hein? Depois de tantos anos esperando alguma coisa que completasse e desse sentido, uma pessoa e uma mensagem diária acabam com a necessidade de sentido e de entendimento. Quando fica tudo bem, não preciso entender mais nada.

E gosto de dias comuns, domingo na chácara com sol rachando lá fora e a gente do lado de dentro com preguiça do mundo. Sábado de tempestade e nós dois assustados com o barulho do trovão. De sol a chuva, só uma coisa me faz querer esquecer do resto e de todos os podres que vem com ele.

O emissor de duas palavras “mágicas”, estando ou não ao meu lado, transforma a minha vida como se fizesse surgir da cartola a solução pra todos os problemas do mundo.

Mas não é mágica, tampouco a mensagem. O que me faz continuar todas as manhãs após o café preto é a demonstração de que todos os dias faço parte do pensamento dele. E ele do meu. Não só de manhã, mas a qualquer hora, já que sempre é um "Bom Dia" quando se tem uma pessoa que completa tudo envolvida nisso.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Eletro.

Não é nenhuma lei da metafísica que comprova isso, e ninguém que acredita nessa psicoenergia pode confirmar ou desmentir. Mas que todos nós somos ligados a uma só coisa, ou flor, enfim, já está mais do que entendido.

Sei lá se estou acreditando muito nessa coisa de que somos recarregados como se fôssemos baterias que necessitam de dois pólos opostos para obter energia. O que tenho percebido é que adquirimos, mesmo que inconsciente, a energia de outras pessoas e do ambiente, e essa energia, dependendo de como estamos mentalmente, é capaz de mudar da água pro vinho o estado físico e espiritual de cada um, levando à loucura, à ignorância, ao desespero e à atitudes até mesmo positivas, porém, com menos frequência.

Vemos isso a todo instante. Uma ligação é desligada na nossa cara e, através de fios conectores, nosso estado de humor se modifica. Uma palavra mal colocada numa frase, uma porta fechada com mais força, um problema que “necessita” de solução imediata. O dia ficou carregado, nosso corpo não consegue agüentar mais tantas pressões de todos os lados. Ainda bem que tem melhor amiga, melhor ouvido, melhor conselho, melhor abraço. Quem iria secar as lágrimas? Quem iria dividir o peso? Quem pegaria as dores? Se não fossem nossos anjos da guarda com codinome transmitindo positividade, fé, segurança. Esses anjos que chamamos de amigos nos dão a mão, trocam nossas “baterias”, fazem que comecemos outra vez.

Pode ser loucura, mas quem não é um pouco louco? A minha fé é determinada por atos de proveniência positiva, e o mal, que as vezes me atinge, tento manter longe do lugar mais precioso que tenho. Do coração. Onde se encontra nossa mente e nossa alma, ligados pelo universo em um único centro, pode ser em forma de flor, enfim. Sabe, se meu filtro receptor falhar e eu quase cair, espero que por perto tenha alguma força que me levante e me faça continuar, porque nem sempre nosso corpo agüenta tanta energia ruim que depositam em tudo o que é lugar, ambiente e situação e, infelizmente, ninguém está livre disso.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Japonês.

[Esse post não é um texto, uma crônica, uma poesia ou carta de amor. É uma demonstração de amizade e carinho por alguém que faz imensa falta na minha vida.]


Se tem uma coisa que me enche o coração de alegria é saber que tem pessoas que duram mais do que um momento em nossa vida. São essas pessoas que não vem só para passar uma estação ao nosso lado, mas para marcar para sempre nossa história em diversos momentos.
Hoje logo cedo me deparei com uma dessas pessoas que fizeram meu coração sorrir. E foi logo após um dia de nostalgia. De lembranças e saudades de uma época tão boa. Tudo era Fantastic. Inclusive ele.
Era alternativo, tinha o olho puxadinho e era o responsável pela montagem do arco de balões. Eu, mais uma monitora na época. Foi assim, à primeira vista. Já sabia que dali iria sair uma grande amizade.
Foi assim tão sincronizado que não dava para acreditar que nossa amizade seria assim, tão intensa. Foram muitos momentos, muitas conversas, muita vida compartilhada. Muitas risada, abraço, sorriso, arcos, balões, lanchonete, bandejas e salgadinhos e docinhos e brinquedão. Ah, o brinquedão. Esse ouviu muitas coisas.
Nossa amizade é assim. Um tempo longe, depois aparece. E quando vê fica tudo normal.
É amigo, to aqui pra tudo. Pra ouvir atentamente, pra aconselhar, pra abraçar.
Porque sabe, quando meu coração sorri, não há nada que pague isso. Você mora nele sem pagar aluguel.

terça-feira, 12 de outubro de 2010


É claro que não consegui dormir de ansiedade, mil coisas passando pela cabeça, me perdia imaginando como seria estar presente em um grande festival, diferente de tudo o que já havia vivido anteriormente.


Finalmente o tão esperando dia chegou, acordo cedo, me arrumo e junto com minha irmã e alguns amigos dela, caio na estrada... No caminho a ansiedade aumentando e finalmente chegamos, fiquei sem palavras, uma sensação desconhecida nesses 21 anos de vida.


Senti-me num misto do filme “Aconteceu em Woodstock” com o livro “Soul Love”, poeira subindo, pessoas com mochilas e cobertores, espírito rock and roll, sentimento de liberdade!


O céu azul, os sorrisos em todos os rostos, a espera por grandes shows e principalmente por um fim de semana inesquecível. Cada passo, no longo caminho até a entrada causavam uma sensação nova, diferente e gostosa... Acredito que todos sentiam da mesma forma que aqueles dias jamais sairiam das nossas memórias.

Primeiro show, Malu Magalhães, sem graça, nem liguei, a felicidade era maior que a esquisitice dela. Mas foi ali que comecei e encontrar rostos conhecidos, e claro, isso fazia o momento se tornar ainda melhor.

Mutantes, show inesperadamente bom, o frio nos fazia dançar... Mas eu queria outra coisa, eu queria Los Hermanos, o real motivo de estar ali.


No meio do caminho o ônibus mágico, e esse só quem assistiu Na Natureza Selvagem entende, e não sei porque, mas pra mim foi uma das partes mais significativas do ambiente.


E finalmente, LOS HERMANOS, que show, que show, que show! Irmã e primos foram personagens principais do melhor ato do espetáculo. Cada música cantada no mais alto que a voz alcançasse... Mais uma vez: QUE SHOW!


Tá tudo bem, depois disso aconteceram muitas outras coisas, shows bons, mas nada, NADA, consegue superar Los Hermanos, por isso, a minha história acaba aqui.


quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Estagiário

Para tantas, senão todas as profissões é necessário que exista um “multi-tarefas” para suprir os desfalques de cada área. Esses são os estagiários. Trabalho normalmente operacional, independente do setor, isso porque o estagiário está lá para aprender na prática a exercer uma profissão e se qualificar. Existem diversos tipos deles. Os estagiários que fazem aquilo que mandam e pronto. Os que se esforçam para serem efetivados e fazem além, e os que mais do que estagiários, se tornam amigos.

Tive dois tipos de estagiárias em um período muito curto de tempo, mas como opostos me fizeram entender e admirar a profissão. Essas que teimosas também debateram comigo, auxiliaram meu trabalho em momentos determinantes. Muitos deles fora do âmbito profissional.

Estagiário também atua como conselheiro, acompanhante de festas, medidor de auto-estima, blá, blá blá. Ele, que está ali para ajudar no trabalho, palpitar na vida pessoal, a escolher presentes para o namorado, entre a pousada ou o hotel, a roupa ou o jantar, se vai ou não voltar a procurar aquela pessoa. Estagiário, estagia mesmo na vida. Aprende e ensina mais do que profissão.

Particularmente sou suspeita para falar já que apesar das desavenças tive certa afinidade com minhas duas estagiárias. Porém, só pelo fato de suportarem, normalmente com bom humor, os meus dias nublados já sou inteira admirada. Não é fácil assumir papel de “chefe” e ser obrigada a ser durona quando o coração está feito manteiga derretida.

Mas, separando ou não profissional do pessoal, afinidade com estagiário é uma coisa engraçada. Dá sensação de querer proteger, de aconselhar e querer cuidar. Mesmo que a diferença cronológica seja pouca e o estilo de vida parecido muito temos a conhecer. A vida diferente do nosso dia-a-dia chama a atenção e merece que participemos. É tão gostoso e tão interessante quando além de colegas do trabalho, passamos a estabelecer vínculos mais fortes que ultrapassam as paredes empresariais. É muito mais do que arquivos, e atendimentos e cadastros. É fidelidade, felicidade, festas, fofocas. Estagiário é aprendiz da vida, e quem aprende sempre tem algo a ensinar.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Alice às avessas.

{Escrito em 15 de setembro de 2010]


Faz um tempo desde o meu último livro e dos minutos sorrindo para o monitor. Nem se fala então dos dias em que veio na cabeça uma história pra contar. Mas hoje quando pela milésima vez mudou a data da apresentação de um dos meus trabalhos mais importantes passei a querer entender tudo o que acontece e porque a vida faz esse jogo comigo.

Quando em dois mil e sete nossa vida se cruzou naquele sonho do banheiro que você teve eu achava que essa altura toda não comportava nada de melhor mesmo, por isso o sonho tinha sido tão ruim. Passaram doze meses e nossa vida se cruzou de novo com uma ligação estranha que eu nem sou capaz de explicar, mas posso lembrar como se fosse ontem o dia que dormimos abraçados em cima do capô de um carro depois de uma briga sem motivo e os dias que passávamos naquela garagem onde o vento não nos alcançava. Era um lance em que não havia o lance em si, mas o conforto do seu silêncio era tão grande que eu poderia passar a vida toda calada.

Não sei, depois não quis mais saber, quis colocar um pouco de barulho e perturbar a vida, o conforto era tanto que só podia ser mentira.

Mas sei que alguém estava certo quando me disse que tudo que a gente não termina um dia aparece novamente. Não é que é verdade?

Hoje aprecio o silêncio e aprendi a conviver com o conforto do vazio sonoro, mas de vez em quando faço soltar umas palavras pra perturbar um pouco e sentir vontade de fazer as pazes.

Parei de achar o sonho sem sentido e tenho vontade de torná-lo realidade.

Quem esperaria isso dessa vida? Quando a sensação de vácuo me enche o coração.

Mas descobri que o que completa realmente é essa coisa de não querer, não esperar e não forçar acontecer.

De vez em quando aparece o caracol, as vezes um choro de neném e até um miado de gato, tudo isso pra mostrar que é possível viver no pais das maravilhas sem ter que cair num buraco sem fim.

Lição de Casa.

Esses tempos tive uma grande lição. Aprendi o significado da palavra perder e o significado da palavra perdão. Em síntese, nada se parecem uma com a outra a não ser pela grafia e sonoridade. No dicionário perder significa v. TR 1. Deixar de ter alguma coisa útil, proveitosa ou necessária, que se possuía, por culpa ou descuido do possuidor, ou por contingência ou desgraça. Perdão s. m 1. Remissão de culpa, dívida ou pena. = desculpa 2. Absolvição, indulto. 3. Benevolência, indulgência. interj. 4. Fórmula que exprime um pedido de desculpas. Duas antíteses objetivas. Mas, no modo dialético elas acontecem sob a forma de processos, em constante transformação.

Hoje, após uma semana e a cabeça um pouco mais fria, analisar todo o processo fica um pouco mais fácil. Dizer que aceitar a perda é fácil, é como dizer para um gordo que doce não engorda. Mas essa mesma transformação dialética faz com que analisemos cada etapa para que o que temos, ou melhor, o que perdemos, seja entendido de uma maneira mais clara.

Talvez faltou a ligação no fim da tarde, e a mensagem de boa noite. A demonstração de afeto, de preocupação, de querer bem. Talvez faltou cafuné. Ou não faltou nada. Pode ser que foi descuido deixar por aí, solto. Faltou juízo. Não sei.

Mas, entre tantas faltas, existe a falta que consegue ser maior que todas as outras juntas. A falta da presença, do abraço apertado, do beijo. A falta de saber, só por saber, que hoje é dia de vídeo game, amanhã de academia e na quarta é prova do colégio. A falta de ficar brava, boba, abraçada, encantada.

Descobri o que é perder algo ou alguém que temos nas mãos e temos muito apreço. Descobri que a perca sempre vem associada ao descuido, ao deixarmos solto por aí aquilo que gostamos. Porque se gostamos, outros gostarão e a partir desse momento podemos entregar o que era para ser nosso.

Sabe, as vezes estamos muito fixadas no encantamento que esquecemos que precisamos cuidar, acalentar, alertar, avisar. Quando se vê passou despercebido e tudo continua normal por fora.

Perder, todo mundo perde às vezes. Descuido seu, desconsideração do outro. Mas perder alguma coisa, ou alguém de muito valor ou importância pesa mais. Aperta e dói.

Entendi que a perca tem sua culpa e seu motivo, e por vezes vem acompanhado de ato ou alguém que errou. Nisso conheci uma coisa nova pra mim. O perdão. Poucos tem a virtude de perdoar. Erro. Quem é que não erra? Quem é que não admite erros? Por quê magoar? Perdoar, aprendi. É muito mais bonito, o coração sorri. A segunda chance, vinda do perdão, é muito mais sincera.

Analisando assim, separados, perder e perdão parecem coisas sem ligação nenhuma. Mas uma respectiva à outra, acompanham fases na vida. Primeiro perdemos, por falta, por erros. Depois, perdoamos. Todos merecem segunda chance.

Assim, o coração fica em paz e some o peso. Fica leve. Mesmo que fique faltando alguma coisa, alguém. Sei lá.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Eu sei que é pra sempre.

Acho que a vida sabia que ele tinha que entrar na minha vida, na dúvida deixou ele ali, meio de canto... para algumas amigas ele significava alguma coisa, pelo menos na beleza, pra mim nem isso levava tanto em consideração.
Uma conversa com o então melhor amigo na webcam, e de repente um susto... um homem só de cuecas ao fundo. E quem diria que ali começaria essa amizade?
No começo um pouco sem jeito, mas amizades em comum, uma amiga no meio da história e a gente acabou se aproximando, logo depois começaram as conversas de madrugada e cada risada que eu dava me fazia gostar ainda mais e mais e mais dele.

E ai eu passei por uma fase super complicada, talvez a pior até hoje, e inexplicavelmente eu o via ao meu lado nos piores dias, e basta uma ligação para que ele, com toda a paciência e o carinho do mundo, atravessasse a rua para ouvir os meus lamentos, os meus medos e também os meus sonhos.
E aquele banco na entrada do meu prédio foi se tornando a principal testemunha da amizade mais pura e sem pretensões que eu começava a viver.

E por dois anos ele se tornou o meu chão e me fazia seguir em frente, porque só eu sei o quanto aquele abraço me dava forças e o quanto cada sorriso era valioso pra mim.
Mas como nada é perfeito, o pior aconteceu, ele foi pra outra cidade e confesso que nos três ou quatro primeiros meses ainda pensava que ia o encontrar pela rua como de costume.
E foi a primeira vez desde o inicio da amizade que fiquei por mais de 6 meses longe, e como doeu, a internet e o telefone não eram o suficientes, apesar de manterem a amizade viva.
Algumas visitas e eu só desejava ter o meu melhor amigo perto novamente.

E em 2010 a melhor noticia, ele ia voltar pra perto de mim!
Eu ainda não matei a saudades desse tempo longe, mas a minha felicidade de tê-lo aqui perto ainda me tira sorrisos. :)

É um amor diferente, é um misto de amizade e fraternidade... é a certeza de que o pra sempre existe!

sexta-feira, 30 de julho de 2010

A palavra que purifica.

[Escrito em 20 de julho de 2010]

Hoje eu tava por aí no trabalho e me deparei com uma pessoa com a expressão preocupada, meio tchalalá. Me deu uma dó no coração. Era uma garota na melhor fase da vida e já parecia carregar tantos montes de problemas sobre as costas. Perguntei e ela me respondeu que eram acontecimentos comuns do dia-a-dia. Que quando acordamos com a sensação de que será uma droga, o dia é mesmo, independente do que se faça para mudar.
Disse pra ela que não adianta se entregar a essas coisas. A gente atrai aquilo que transmite, se você está com a cabeça baixa pensando na droga de vida que tem, cada vez mais drogas vão aparecer. Seu chefe vai quebrar o dente durante o almoço e dizer que a culpa é do estresse diário e gritar com você porque está estressado com o próprio trabalho e com as coisas que não consegue resolver senão no grito. Um velho resmungão vai ligar e apontar erros que não são seus porque ninguém mais quer ouvir e não tem quem culpar senão ele próprio, então escolhe você pra desabafar poucas e boas até que você mostre o erro dele e o telefone fique mudo porque aquele senhor nada educado desligou na sua cara com medo, ou vergonha, ou ignorância de assumir sua falha.
Querida, você vai acordar e voltar a dormir tentando mandar a preguiça pra um lugar no qual você não vai desejar estar, vai olhar para a cara de sua mãe com um bico de pica-pau igual o do seu pai que não está nem aí há tantos anos e vai lembrar o quanto ele foi sacana e seu humor que já estava numa escala abaixo de zero, vai cair mais ainda. Tudo isso a gente atrai.
Pode ser que uma música, uma pessoa, uma palavra, um abraço, um caderninho e uma caneta, uns rabiscos, alguma ou todas essas coisas juntas consigam arrancar de ti essa tristeza aí na alma. Deixa. Manda de um jeito bem educado, com um sorriso estampado e o peito bem cheio, todas essas drogas pra'quele lugar. Desculpe-me a expressão, garota, manda tudo isso SE FODER.
Ria dos chineses e seus "pleços quatlo leais" , ria com a tia da limpeza, sorria quando um careca aí quiser descontar as coisas em você. Ouve de um lado e deixa sair pelo outro. Purifica esse coração aí. Pedra ninguém quer não, deixa ele voltar a ser brilhante.
A menina, após todo o meu discurso me disse, tão cabisbaixa, que tenta, mas quase não aguenta levantar mais. Olhei bem nos olhos dela, nos olhos que por mais que se arregalem não abrem mais do que o normal e por um instante me calei. Logo após, peguei suas mãos e dei uma boa sacudida mandando toda a urucubaca embora. Olhei novamente e com a maior convicção do mundo falei a ela de sua força, sua imensa força. Que aguenta não só os deslizes, os desfalques, os monótonos, agitados, tristes, e felizes dias. Essa garota tem uma força que aguenta o mundo, que aguenta todas esses montes de problemas e muitos mais e aguenta ainda tudo que de mais vier, mas somente se conseguir se livrar dessas sensações de fim de mundo. Garota, deixe o fim de mundo para 2012, não queira adiantar as coisas.
Calada, a garota me olhou.
Abriu a torneira à sua frente, lavou o rosto e disse para seu reflexo no espelho: Foda-se. Sorriu para mim e eu, refletida no espelho, pude sentir a sujeira que carregava indo água abaixo.